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Diversidade, a língua universal

Por Ana Kessler

Você acredita em Anjo da Guarda? Eu acredito. Sexta-feira passada eu estava com a Bia aqui em casa e pensei: "Poxa, vou passar o feriadão inteiro de plantão, bem que uma amiguinha podia chamá-la para brincar, a baixinha iria se divertir e eu trabalharia sem culpa". Cinco minutos depois, trim, a mãe de uma coleguinha da escola faz o convite salvador: será que eu deixaria a Ana Bia viajar com a Fê para um parque aquático em Olímpia? Só havia um porém: elas ficariam até terça-feira à noite. Tudo bem? Olhei pra cima, ergui as mãos. Deus é pai!


Acreditar muda tudo. E é com essa mesma força e fé que, creio eu, podemos mudar o mundo quando o assunto é preconceito. Pensei nisso porque meu post aqui (que sai às terças e sextas) caiu no Dia da Consciência Negra e acho importante refletirmos sobre a data. Como pais e educadores, somos nós que formamos as opiniões dos nossos filhos ou pelo menos orientamos suas linhas de pensamento de modo a nortear atitudes.


Quando um bebê nasce, ele é livre de julgamentos. Ele se torna o que vivencia, observa, absorve de informações. Ensinar uma criança a não pré-julgar é e deve ser um exercício diário. Um aprendizado constante para nós também, adultos. Não há nada mais triste do que se achar dono da verdade. E tentar impô-la aos outros. Isso vale para pessoas, governos, grupos religiosos, partidos políticos. Pra mim, pra você. Para os nossos filhos.


Preconceito nada mais é do que apegar-se ao que se conhece. Quando você acha que o que tem, o que é ou o que sabe é tudo que existe, você não está aberto ao novo, ao outro, ao diferente. Romper o preconceito é abrir-se ao desconhecido. É exercitar em si o olhar curioso, o ouvido atento, o coração livre. Quando sair do casulo das suas certezas arraigadas, você não vai mais achar que a sua cor de pele é a mais bonita ou que a pessoa com deficiência é inferior. Porque a beleza estará, justamente, no contraste, na diversidade.

Fotos: Exposição "O mundo mágico do Escher", do artista holandês M.C.Escher, no CCBB do Rio de Janeiro (2011)


Ana Bia é carioca. Aos dois anos, nos mudamos para Porto Alegre. Na creche gaúcha, ela chiava e os amiguinhos falavam "cantado". Quando finalmente perdeu o sotaque e se integrou à turma, voltamos para o Rio.


Na nova escolinha, ela cantava e os amigos falavam “chiado”. Havia crianças com Síndrome de Down, mulatas, brancas, havia uma menina francesa que mal falava português, outra americana, havia a inseparável amiga Malu (da foto) e havia a Bia, que chegava na garupa da bicicleta desta mãe, com seu capacete vermelho cheio de adesivos de princesas e suas gírias "tri maneiras" pra cá e pra lá. Era uma escola inclusiva. Inclusiva como a vida deve ser.


Agora moramos em São Paulo. "Mãe, eu acho tão fofos olhinhos puxados!", Ana Bia está encantada com os amigos orientais. Japoneses, coreanos, chineses, todos lindos. O sotaque? Ela nem sabe mais que língua fala. Paulistano-gauchês-carioquês, fala a universal das crianças, a língua que não tem cor, raça, credo ou preconceito. A língua que todos nós deveríamos aprender.


*Texto publicado originalmente no blog De Mãe Pra Mãe, projeto Unilever/MSN (2012). Ao longo de dois anos, as jornalistas Ana Kessler, Adriana Teixeira e Mariana Della Barba escreveram semanalmente sobre maternidade real, sem filtros e com muito amor.

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